segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Quites


Ajoelhou o ego e implorou por perdão. Teve como resposta um pecado.“ Também te traí, Rose... também não fora só uma ou duas vezes. Mas sempre com a mesma mulher.” Sentiu um leve sorriso prolongar pro canto do rosto aliviado e tão feminino. Não se sentia mais tão culpada assim. A traição mutua fez pensar que , afinal, “estamos quites, então”. E, ao dizer isso com tanta satisfação, apoiou as costas magras na cadeira e cruzou as pernas, provocante. Tudo ficou mais calmo e Paulo olhava a mulher com um ar constipado, mas desejoso. Quando a pediu em casamento, ambos novos, nem adolescentes, nem adultos, não tinha certeza do amor que jurava... desconfiava ser mais um tipo de atração física muito forte, um sentimento de necessidade. Algo destruidor. Permaneceram nisso por vinte anos. Vinte anos de traições pela incerteza, pelo incômodo. Acima de tudo: pela confusão. Eram confusos como quando inventaram de casar. E mesmo na hora das cartas, a mesa parecia só um apoio para o sexo. Até a traição lhes era atraente. Rose cruzava as pernas para o olhar faminto de Paulo, que não se continha em posição alguma na outra cadeira, desnudava a mulher com o prazer. “Acho que ambos erramos, ambos temos de pedir perdão. Ambos fomos idiotas” Sim, ele se sentia um imbecil diante da mulher mais sensual do mundo. “Você sabe que eu te perdoei já. Mesmo porque, não sou deus nenhum que julga morte ou vida. Foi só uma crise, certo? A gente continua se amando, num tem porque separação ou qualquer outra frescura” passava a mão no cabelo curto, mexia na aliança, falava com esse tom rouco, grosso, observava as próprias unhas, acanhada. “é... acho que entre a gente, tudo vai sempre acabar em beijo” reclamou Paulo logo interferido pela mulher “Não, meu querido, tudo sempre vai acabar em sexo... Não sei porque precisávamos de amantes...” não sabiam. Eles tinham tudo: a nudez. Os dedos todos sabiam de cor os caminhos dos corpos. Ajeitou a franja atrás da orelha e sorrio “nos amamos ainda, né?” Aquela voz rouca... “Sim, Rose, você sabe que sim” Descrusou as pernas e apoiou na mesa para um beijo "estamos quites"

domingo, 17 de agosto de 2008

Do acorde do vento


O vento me faz viril.
Tudo que me atropela
É com consentimento.
Narro a trajetória
De minha vida, em seus detalhes.

Se não fosse a palavra,
Não seria o vento.
Se não fosse o vento,
Não seria a palavra.

Sou um átomo do vento
Nu.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Vendas


Todos nós, vendados, tateamos

Nesse grande campo

Que de tão vivo, sentimos o verde


Nus, caminhamos em direções aleatórias

Inertes, com o mote dos sonhos frescos

Plantados pelo sol mais límpido


Procuramos nos outros o que nos encha as mãos

Procuramos nos outros o que nos aqueça a carne

Procuramos o que nos encaixe melhor


Procuramos a nós mesmos

No desejo que nossas mãos se encham de si

Que nossa pele se sinta segura

Na ânsia de não se incomodar mais com a venda nos olhos.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Sonho de uma noite de inverno!


Eu tive um sonho. O sonho não foi comum, daqueles que se tem em noites normais, quando deitamos na nossa cama da forma habitual, quando acordamos nus por conta da nossa própria vontade inconsciente de se levantar e começar o dia. Não, o meu sonho foi um tanto quanto estranho, quase assustador, inquietante... ah, é importante dizer que eu não tinha ido dormir de barriga cheia, nem comido altas horas da noite alguma comida pesada, como as pessoas insistem em dizer depois que a gente conta que teve um pesadelo: ´´ Quem manda ir dormir de barriga cheia!´´

Acordei como sempre, cedo. Estava de férias há algumas semanas, mas não conseguia parar de acordar cedo. Não era de todo ruim, podia aproveitar mais o dia, visitar todas as pessoas que queria e precisava visitar. Era um dia especial aquele. Visitaria alguém por quem por algum tempo sentira um forte sentimento de quase-paixão. Abri meu guarda-roupa e ,ainda nu, ensaiei vestir algumas combinações de calça e camisa. Achei aquela que seria perfeita, me vesti e fui.

Encontramos-nos num parque muito verde, às 10:00. O dia estava esplêndido; pessoas faziam piqueniques, corriam, andavam de patins, namoravam... Conversávamos quando comecei a me sentir estranho. O vento parecia mais forte, o sol me queimava mais a pele e então percebi que minha roupa, minha roupa toda estava desaparecendo ...a camisa, a calça e até minha cueca estavam ficando transparentes. Não se tratava apenas de elas estarem se tornando invisíveis, não, elas estavam realmente desaparecendo! Todo o processo demorou no máximo um minuto e eu me vi ali, nu! Não agüentei, estava totalmente envergonhado ...claro, e moça ria copiosamente de mim, ou da situação, enfim, não fiquei muito tempo esperando para perguntar do que é que ela ria, fugi correndo. Enquanto corria percebi que ninguém mais se incomodara com a minha nudez, passava por todos como qualquer um que fazia caminhada num ritmo mais animado.

É engraçado como existem sonhos e sonhos. Este foi um daqueles que parecem filme, sabe? Cores fortes, vívidas...os diálogos eram totalmente inteligíveis, ninguém falava como idiota, ninguém tinha língua enrolada, falava uma língua estrangeira ou latia ( enquanto os cachorros falavam português claro)... Além do mais o sonho doía.

Depois de ter chegado em casa, chequei todas as roupas no meu guarda-roupas, provei cada uma ficando com elas no corpo por pelo menos 10 minutos cada. Nenhuma sumiu. Não conseguia entender e depois de muito tempo me cansei de pensar, me despi e fui dormir. Daí aconteceu o lance do filme de novo: no intervalo escuro que aconteceu entre meu fechar de olhos para dormir e abri-los de novo apareceu uma legenda que dizia: ´´ Algum tempo depois... ´´ Acordei, não parecia muito diferente não, só sabia que hoje tinha um encontro! Era um dia muito feliz e tudo daria muito certo... nu, em frente ao espelho, pus em frente o meu corpo um terno finíssimo que havia comprado para essa data. Estava de férias então podia aproveitar um pouco o dia, o encontro só aconteceria no fim da tarde: um jantar!
Chegada a hora, me vesti e saí. Lembrei da última vez que havia me preparado para encontrar alguém, do episódio no parque. Limpei aquela cena da minha mente e fui. Tudo corria muito bem, já tínhamos sido servidos quando comecei e não sentir mais o peso da roupa no meu corpo. Sem acreditar, olhei para meu colo e já podia ver minha cueca ( que também já estava sumindo) embaixo da calça. No mesmo instante me levantei, pensando que, se corresse para o banheiro as pessoas ainda não me veriam totalmente nu. Foi inútil. Parece que no momento que me movimentei mais bruscamente para empurrar a cadeira a roupa aproveitou e sumiu de vez!

Ela olhou pra mim por cinco segundos, estática. Eu já estava esperando uma risada explodir daquela boquinha mas não, ao invés disso ela começou a chorar como jamais vira alguém chorar. Fique desconcertado, não sabia o que fazer. As pessoas começaram a olhar para ela sem entender o porque daquele choro. Eu também não entendia uma coisa: todo mundo olhava pra mim normalmente, ninguém ficava me olhando como fazem as pessoas ordinárias quando vêm alguém assim, parada, em pé, nu em pelo, dando sopa no meio de muita gente. A imagem desapareceu e o vídeo-sonho correu como se tivesse apertado a tecla ´´Forward´´ do DVD player. Vi então várias cenas: uma após a outra eu acordava, achava a roupa certa, me vestia e seguia ao encontro de alguém. Um após o outro, em todos os lugares possíveis, tudo acontecia do mesmo jeito: a roupa simplesmente sumia, a pessoa tinha uma reação extrema, estranha e eu morria de vergonha. Vi outras cenas também, não era só isso. Vi cenas em que me encontrava com amigos, colegas de trabalho, ia a shows, peças de teatro e tudo corria na mais perfeita ordem, nada de roupas sumindo.

Acordei quando os créditos subiam, sumindo no limite das minhas pálpebras. Era estranho o sentimento de tristeza, de dor e amargo na boca. Fiquei com medo de abrir o guarda-roupas e não ter roupa nenhuma. Caminhei lentamente, fitando a porta cor mogno como se quisesse ver algo muito pequeno. De supetão abri e suspirei: estavam todas ali. Passei a mão na testa e comecei a esquecer, afinal, era só um sonho.

Depois de procurar por meia hora a roupa que seria perfeita para aquele dia desisti. Me olhei nu mais uma vez no espelho. Peguei minha pasta, minhas chaves e saí.

domingo, 29 de junho de 2008

Sem reflexo







Meus braços grudavam de suor. Tinha a nítida sensação de ter caído nos olhos cacos do espelho quebrado, sete anos de azar.




- Fiz aquilo de novo!




É, fiz aquilo de novo. A mão nem bate na testa por surpresa. Apenas fiz. E, no fundo, eu sei que faria de novo.




-Quase estraguei tudo!




Sete anos de azar. Quebrei meu próprio espelho. Estou tentando juntar os pedaços para me enxergar por inteira e nua. Quebrei votos de lealdade comigo mesma. Me desorganizei. Me perdi...




Minhas unhas cresceram de mais. Meus cabelos perderam sua verdadeira cor. Minhas roupas estão curtas, pequenas e apertadas.




Perdi meus versos. Desaprendi a escrita. Joguei os livros em baixo da cama. Não danço mais. Não rezo mais.




Não me olho no espelho.




- Sete anos de azar!




Ás vezes penso que ...




- O último caco se escondeu na sua pupila.



quarta-feira, 16 de abril de 2008

De volta a minha nudez infinita





Por mais que me tirem o teto
Ou minhas paredes,
Ou meus candelabros,
Ou minha riqueza,
Não arredo o pé de minha nudez.
Mesmo que me arranquem a liberdade
Ou que me façam torturas,
E que me roubem o beijo,
E se me arremessarem, direto pro alto
Nu, voarei.



E se me tirarem o tempo
A pandura
A loucura
O pejo
O peso
Ao romance me entrego
Não arredo
Nunca
O pé, de minha nudez!

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Paredes Nuas

Gosto do cheiro de pão que se espalha pela casa toda. Quatro cômodos inertes que param para apreciar esse momento. Como qualquer outro detalhe que se exploda entre os segundos, aqui.
Moro num subsolo. "Escondida" da rua, do céu e das pessoas cotidianas. Um subsolo nu. E pequeno.
Se há um som em um dos quartos, há um som na casa toda. Se uma luz se ascende atinge, mesmo em timidez, qualquer canto da casa. Minha casa pelada tem apenas duas portas: a de entrada, a do banheiro. A porta do banheiro está quebrada, qualquer um pode entrar.
O “qualquer um” de minha casa, se resume a três mulheres: Minha mãe, Meg, minha cachorra e eu. Também somos nuas.
Convivemos 24 horas seguidas tendo em pauta tudo o que qualquer uma das três faça. Eu sei que agora, nesse exato momento, minha mãe está escovando os dentes na pia pequena do banheiro. Não estou vendo, mas posso ouvir. E a Meg está deitada na minha cama, se coçando.
Nossa intimidade não tem limites. Sabemos exatamente todos os movimentos, uma da outra. Nos conhecemos tanto que podemos nos comunicar com apenas um suspiro. Não fazemos mais perguntas do tipo : “Você gosta de batatas fritas?” ou “Prefere pintar a parede de branco ou rosa claro?”. Já sabemos de quase tudo.
Somos nuas. Todas nuas, dentro de nós mesmas, dentro dessa casa que não tem portas nem limites. Entre essas nossas paredes peladas.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Massarandupió!


Quero deixar um vento bem forte me levar

Me levar pra essa praia tão bonita

( Massarandupió )

E que meu corpo se queime nesse sol tão generoso


As nuvens podem ser testemunhas

Que o que a gente quer é ser livre

E falar com nossos corpos nus!


As palavras já não cabem mais

Nada consegue a forma desse discurso

Só nossos corpos brilhantes traduzem.


Quero que o mundo seja Massarandupió

E que as pessoas sejam o que são:

Cada dia diferentes nas suas mesmices!


Mas que sejam diferenças autenticas

Diretas e sem artificialidades.

Ser por ser não custa.


Por que se já nascemos múltiplos

Pra que multiplicar-se com tanta bobagem?

Vamos nos ploriferar nesse mundo!


Ploriferar nossa vontade

Nossas idéias simples,

De corpos nus e ao sol

Onde tudo pode ser...

sábado, 26 de janeiro de 2008

Prazer em conhecer



Ele parou bem na minha frente e começou a se despir. Tirou a calça, primeiro. Depois as meias brancas. Abraçou sua camiseta e a arrancou, também. Ficamos nos olhando.
Eu não estava entendendo muito bem.
Ele não falava nada. Nem quando entrou pela minha porta. Nem quando tirou os sapatos. Nem quando desceu a calça. Nem quando esbarrou seus punhos fechados em meu rosto ao tirar a camiseta.
Lembrei da nossa discussão, há uma semana atrás.
Não quero mais você na minha vida.
Essa foi minha breve explicação.
Eu mereço uma explicação? - ele não altera a voz em nenhum momento
Não.
Por que?
Não te conheço mais.
Um ato não pode resumir uma pessoa.
O seu ato me quebrou por inteira. Saia da minha casa e saia da minha vida.
Fixei meus olhos nos olhos dele. E não desviei até ele abrir a boca.
Por que você nunca é direta?
Por que você nunca se abre?
Responder uma pergunta com outra é, obviamente, não ter uma resposta convincente.
Você me conhece.
Não, eu não conheço.
Ele olhou para a janela e não discutiu. Pegou sua mochila e saiu silenciosamente pela porta.
Agora, aqui na minha frente. Como nunca o havia visto antes. Talvez fosse exatamente essa a distância. Talvez fosse exatamente esse o problema.
Ele continuou me olhando. Parecia estar esperando alguma coisa. Esperou por 10 minutos. E olhar para os olhos pelados dele por todo esse tempo não foi ruim, admito.
Deu uns passos até a janela e abriu as cortinas. A luz da noite urbana invadiu a sala quase vazia.
Ele me colocou em frente a janela. Ficou parado atrás de mim. Tirou o meu casaco azul. Desabotoou minha camisa branca. Abriu. Tirou. Pegou minhas mãos. Apoiou a palma de cada uma delas em cada um dos meus quadris. Primeiro no direito. Depois no esquerdo. Apoiou o meu dedão na calça. Abaixou. O tirou dos meus pés. Assim como os sapatos de salto alto. Me virou de lado e olhou direto em minhas pupilas. Soltou meus cabelos.
Tocou seus dedos no meu rosto. Fechou os olhos. Começou a tatear todo meu corpo,lentamente, como se estivesse me vendo assim. Como se os olhos não bastassem ao olhar. Como se ver, olhar, fosse algo mais profundo.
Por fim, Tateou minhas mãos. As sentiu no rosto. As beijou. E abriu os olhos, para que eu fizesse o mesmo.
E eu fiz.
Quando finalmente abri os olhos ele estendeu a mão e me disse:
- Muito prazer em conhecer.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Estranhos Amantes

O que há em minha nudez que te assusta?
O fato de não esconder-me atrás das máscaras que ocultam a sensatez?
Ou simplesmente o desabrochar dessas vaidades decompostas que tanto envergonham-te?

Sou livre.
Sou minha!

Saio na chuva em pleno carnaval sem importar-me com minhas roupas maltrapilhas e maquiagem desfeita.
Deito na cama com as botas sujas de lama e os cabelos emaranhados depois de ter sido possuída por ti ali, naquele mato molhado cheirando o mórbido da grama seca.
Despida de roupas e preconceitos apago a luz!
Despida do teu ego de moralismos pacatos e acomodados.
Acendo meu cigarro, meu incenso, meu abajour.

Mexo em teu cabelo na esperança de mexer com teu mundo.

Adormeço em paz. Suja e serena. O hálito de vinho a lembrar-me que de línguas e uvas líquidas foram vividos nossos momentos tórridos.
A chuva a escorrer pelo vidro da janela escura e o barulho a cair pelo telhado, vislumbram-me brevemente a alegria de ser viva.
Sinto-me nua e tua.
Minha nudez me dá um prazer inexorável. Uma liberdade infinita.

Rolo pelos lençois e sorrio. Consigo assistir-te nos flashes da memória. Inteiro.
Sem roupas, sem pensamentos, sem movimentos.
Ali, deitado no mato a contar estrelas, a beber a chuva, a engolir meu beijo.

Durmo.
Acordo com um olhar incomodado.
Todo vestido, alcanças-me minhas vestes. Desvias o olhar.
O que há de errado?

A nudez liberta!
Minha alma enaltace a divindade das esculturas humanas deste corpo. Sou deusa.

O que há em estar nu e insano que tanto assusta-te?

Vamos beber mais um pouco de vinho e brincar que o mundo não existe;
Correr nus pela chuva, fazer amor no telhado.
Por que minha nudez te incomoda?
Tira tua paz, teu sossego?

Despida de roupas e máscaras.

Danço os bailes de meus próprios carnavais venezianos.

Olho-te nos olhos.
Hoje decidi permanecer nua.
O dia inteiro!

Vou ali regar meu canteiro.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Inesperado


Há questões que penso
.............Não podem ser resolvidas
Como posso
.............Sem nem saber como te chamam
Te gostar tanto?

Essa paixão que lhe tenho
.............É tão sincera quanto inocente
Tão simples quanto ignorante
.............É gratuita e nua de medos

Cada olhar teu limpa-me
.............Despe-me de meus sentimentos e cria novos
Não me envergonho de me ver nu
.............Nunca havia me olhado dessa forma

Mal segurei este bebê
.............Já me vejo rodeado desses seres
E suas acusações
.............Me odeio por dar-lhes ouvido
Começo o diagnóstico: Platonice Aguda!

Um lírio brotou livre de cores
..............Aos poucos lhe rego
Canções, brisa e um céu limpo
..............Convencem me de voltar um pouco
E acreditar, e ter medo, e sentir aquela tristeza
..............Talvez uma cor brote

Me doi não conseguir falar
..............Não fazer parte de um texto dinâmico e objetivo.

Cansei de te encontrar inesperadamente
..............Estou certo de que da próxima vez
Por desejar, não lhe encontrarei
..............Vou dizer como das outras vezes: Foi a ultima vez!
Quem sabe você aparece...

****
***
**
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Foto by Nuno Manuel Baptista

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Agora, ausente de minhas 4 paredes...


É, meu bem, a vida tem dessas mesmo. Dessas de solidão. Dessas coisas de acordar depois de uma hora de sono todo assustado e agoniado com medo do que não se pode ver nem compreender. Dessas coisas de fazer dos teus sorrisos e teus choros, parte da rotina que, venhamos e convenhamos, anda reverente de mais.

Lá fora, carros, pessoas, indo e vindo... Não sabem da onde, não sabem porque, não sabem nada. Nem eu sei.

Com tantos rostos e expressões, já me perdi. Se achar que é difícil. Hoje em dia, até mesmo entre quatro paredes, o "Fingir" se constroi.
Definir-me sorridente ou triste, não!
Definir-me vaga... Indecisa.

Tomo a vida como uma verdadeira correria. E todas as noites corro por aí, uma tentativa de materializar essa tal correria. Gosto das ruas assim como ficam, vazias. Gosto do amplo. Do silêncio que a solidão trás. E do perigo: Tenho a esperança de encontrar, atrás de qualquer esquina, algo que me mude por completo. Algo que me atropele, que me dissipa.

Mas nem a correria, em seu ritmo tonto, conseguiu fugir da rotina.

Noite dessas, algumas gotas moralham meu nariz. um chuvisco que preparava alguns raios(e logo a minha gripe, claro) bateu de frente comigo.

O velho sonho de infância. Quem nunca teve vontade de correr pelado na rua?

"Imagina... loucura!"

"Mas quem pode ver? Está tudo vazio e quieto"

"Continue a correr e não pense nem faça besteiras"

Antes que eu percebesse, sentia o cimento frio do chão em seus detalhes. Todas as pedrinhas juntas, molhadas. Todas as sujeiras e imperfeições.

Perder o melhor momento da minha vida sem nenhuma desculpa plausível, seria suicidar meu único ponto de competência. Aquela era a hora. O tempo não me daria outra. Não me seria concedido outro momento tão propicio para me despir.

Continuei a correr, agora de olhos fechados.
As gotas desenharam meu corpo. Meus gestos. Meus sentimentos.

A chuva e meu corpo se fundiram. Meus passos ficaram mais rápidos, mais rápidos... "o tempo não existe", pensei.
Minto! Não pensava em nada... E nem queria.

Estava livre. E fazia parte de tudo, tudo fazia parte de mim.


Me entreguei ao mundo.

Nada de quatro paredes.

Nada de limites.

Nada de nada.


Definir-me sorridente ou triste?

Não!

Definir-me livre!

domingo, 6 de janeiro de 2008

Passivo Enudecer




Amo um amor inconsciente
Um prelúdio do belo intocado
Uma aspiração da morte.
Amo o que desconheço,
Em uma tolice obscena
Desse meu espaço
Intimo e ferrífero.
Dispo-me de uma
Nudez platônica
Que, em meus olhos,
Tem se exagerado.
Eu me limito nesse
Pejo complacente
Na tentativa de uma
Lealdade incógnita.
Visto-me de tua nudez
Conveniente.
Desse teu olhar
Desconhecido
E do teu amor inconsciente.
Dispo-me da máscara
Que não me cabe
Nesse orgulho
Que não se extingui
Dos meus eus inexistentes.
Ponho-me à censura
Acometo-me das mágoas
E dos lamentos...
Dos pecados... Da tortura...
Da nudez, desse amor
Desconhecido.